A Mãe terra grita por Agroecologia, Da Mãe Terra Esperança e resistência.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Especial Jornada Mundial da Juventude – Entrevista com Laécio Vieira.

“Era um novo pentecostes, onde se falava idiomas diferentes, mas que todos se entendiam num mesmo pensamento, de construir uma igreja jovem e libertadora.”


No último mês de agosto aconteceu a Jornada Mundial da Juventude, em Madrid, capital espanhola. Mais de 15 mil jovens brasileiros estiveram entre os mais de um milhão de jovens que participaram neste evento de partilha e oração. O potiguar Laécio Vieira, da Paróquia de Santana, de Campo Grande, no sertão da Diocese de Mossoró, da Coordenação do Setor Juventude NE 2 e da Coordenação Nacional da Pastoral da Juventude Rural esteve presente e conta em primeira mão, com exclusividade para o Blog da PJR, a experiência de Madrid e os preparativos para a JMJ Rio 2013.

Blog da PJR: Como foi a experiência da JMJ?

Laécio Vieira: Foi boa por que a gente viveu a pré-jornada, teve contato com o povo espanhol, principalmente na Paróquia onde a gente estava. Foi legal, pois sentimos o que eles vivem. Já em Madrid não tivemos muito contato com o povo espanhol. E dentro da pré-jornada tivemos contato com outros países, como a Venezuela, México, Argentina, África do Sul, Polônia, Peru. Foi importante estar presente num evento que havia juventudes de vários países, onde se tinham vários objetivos, mas como os bispos falaram ali era um novo pentecostes, onde se falava idiomas diferentes, mas que todos se entendiam num mesmo pensamento, de construir uma igreja jovem e libertadora.

Blog da PJR: O que a espiritualidade da JMJ Madrid contribuiu para motivar o trabalho com os jovens camponeses empobrecidos.

Laécio Vieira: Deu pra sentir lá, que é necessário trabalhar mais a questão de Jesus Cristo. Ter mais presente Jesus Cristo na vida do jovem. E fazer com que a partir do evangelho de Jesus Cristo, os jovens possam se libertar das correntes que são postas em seus caminhos.

Blog da PJR: Em que ponto é possível comparar a região de Fuente El Fresno (uma das localidades da Espanha onde aconteceram as Pré-Jornadas) com o sertão brasileiro?

Laécio Vieira: São duas regiões muito quentes. Em segundo lugar a questão da hospitalidade e simplicidade das pessoas. Os nordestinos e os espanhóis são preocupados em acolher bem. Em terceiro lugar a fé: por que os espanhóis são muito ligados a Igreja, e fazem um trabalho interessante, fazem campanhas, por exemplo, para ajudar a arrecadar dinheiro pra MZF apoiar projetos alternativos. E a alegria daquela região, eles tem orgulho de ser e ficar onde estão. Não tem em vista migrar pra Madrid.

Blog da PJR: Como será o processo de preparação da JMJ Rio de Janeiro?

Laécio Vieira: Primeiro começa com as peregrinações da Cruz em todas as dioceses do Brasil, no dia 18/09 em São Paulo, com um grande show onde irá acontecer a chegada oficial da Cruz no Brasil. Haverá reuniões de preparação; missões nas dioceses e a mobilização de todas as dioceses do Brasil em prol da organização da Jornada. Dentro deste processo teremos a Campanha da Fraternidade em 2013 ligada ao tema da juventude, que contribuirá na reflexão e preparação para a Jornada.

Blog da PJR: Os 3 milhões de jovens rurais que estão localizados entre os brasileiros mais pobres, terão a oportunidade de participar da JMJ Rio 2013?

Laécio Vieira: Através das dioceses eles terão espaços para participar.


Laécio Vieira participa da PJR desde 2007.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

JUVENTUDE CAMPONESA CAPIXABA NA LUTA POR TERRA ,TRABALHO E JUSTIÇA

Nesta quarta-feira, 21 de setembro de 2011, a VIA CAMPESINA realizou em Barra de São Francisco, uma mobilização, reivindicando a anistia e a renegociação das dívidas dos Pequenos Agricultores em todo o Brasil. Pauta essa puxada pela Via Campesina Brasil em Todos os Estados, inclusive em Brasilia esta acontecendo ao mesmo tempo.
No Espírito Santo aconteceram manifestações nas cidades de Pinheiros, Muqui, Nova Venécia, Santa Maria de Jetibá e Barra de São Francisco. Ao todos, cerca de 2 mil camponeses e camponesas de todo o estado se mobilizaram.
A  mobilização começou as 9:00 da manhã e terminou as 16:00 da tarde e ali estava a juventude camponesa participando e na luta por terra, trabalho e justiça.
A pauta de reivindicação inclui a anistia das dividas dos agricultores no valor de R$  de 12.000 mil e a renegociação das dividas com valores  superiores, com prazo de 15 anos para quitação e juros Zero.
O valor total da agricultura camponesa no Brasil chega a R$ 29 bilhões. Alem da anistia, os camponeses e camponesas cobram do governo, mais credito e investimentos na agricultura familiar.
Nesse dia também reafirmamos a pauta do código Floresta em defesa das nossas florestas e da natureza e colocamos em debate a questão dos agrotóxicos nos municípios e país.



      Beatriz da Silva Marins.









                                    





segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Juventude Camponesa faz peregrinação ao Morro da Santa Cruz no sertão baiano

Da Redação.


Caminhada religiosa motiva o processo de evangelização e luta.


MONTE SANTO (BA). Em sintonia com a chegada da Santa Cruz ao Brasil, em virtude da preparação para a Jornada Mundial da Juventude Rio 2013, os jovens da coordenação nacional da PJR, fizeram uma procissão pelos 3 mil metros de subida ao conhecido Monte Santo, ou “Serra da Santa Cruz”, localizado no município baiano de Monte Santo.
As 04h30min da manhã deste sábado (17/09) os jovens iniciaram a caminhada mística, motivados pela espiritualidade do roteiro de Jesus ao calvário, cultivando momentos de silêncio e de diálogo com os irmãos e com a presença da graça divina. Na chegada ao cume, após dar as sete tradicionais voltas em torno da Capela, foi realizada uma celebração com a partilha do pão e do vinho, em memória ao corpo e sangue de Cristo.
“Foi uma caminhada profética, que fez pensar na vida do povo e na missão de cada um como jovem cristão camponês” avaliou o gaúcho Fabiano Pisoni.
“Por mais que seja cansativa, proporciona muita alegria pelo grandioso fato deestarmos todos juntos, a possibilidade da conversa descontraída e sem pressa, na caminhada desenvolvemos a mística do cuidado um com o outro, aprendemos que só a aparência não é suficiente para percebermos a fragilidade de cada um. A caminhada acompanhada com a belíssima paisagem do sertão nos faz refletir sobre como é árdua a luta do nosso povo, e que ao mesmo tempocomo vale a pena lutarmos pelo nosso sagrado direito de permanecermos no nosso lugar, na nossa terra. É uma caminhada que infinitamente é mística e que nos faz rezar, sermos melhores enquanto jovens cristãos” ponderou a integrante da PJR Capixaba, Poliane Dutra.
O potiguar Laécio Vieira, que recentemente representou a PJR na Jornada Mundial da Juventude em Madri/Espanha, avaliou a caminhada desta manhã comparando com as Jornadas Mundiais, afirmando que “são caminhadas que nos fortalecem para realizar o trabalho de base junto com os jovens”.
Histórias do Morro da Santa Cruz.
Pavimentado em pedras, com 23 capelinhas durante o trajeto, o caminho do Morro da Santa Cruz é carregado de histórias que são lembradas pelos moradores locais. Parte do caminho foi pavimento por Antônio Conselheiro, no ano de 1893. Um dos trunfos na resistência dos camponeses na Guerra de Canudos, que foi a vitória sobre as tropas do Coronel Moreira César, é creditada a força da Santa Cruz.
Os relatos orais dão conta de que Moreira Cesar ao passar por Monte Santo, teria esbravejado que primeiro exterminaria com os “fanáticos de Canudos” e posteriormente voltaria para derrubar a Santa Cruz, que simbolizava um símbolo do “fanatismo” na região. O que aconteceu é que as Tropas Oficiais do Exercito Brasileiro foram derrotadas pelos camponeses e Moreira Cesar acabou sendo morto no combate, e o fato fortaleceu a crença na Santa Cruz, que os habitantes da região cultivam.

Coordenação Nacional da PJR se reúne em Monte Santo/BA

Da Redação.


Jovens de diferentes estados estão irmanados na espiritualidade do seguimento de Jesus de Nazaré.



A evangelização da juventude rural mais uma vez é a preocupação dos jovens da coordenação nacional da Pastoral da Juventude Rural, que estão reunidos na Paróquia de Monte Santo, Diocese de Senhor do Bonfim, sertão da Bahia.
A reunião iniciada na quinta feira (15/09) tem na pauta o estudo da realidade agrária brasileira e o processo de evangelização da juventude rural desenvolvido pela PJR.
“Dos 16 milhões de brasileiros que estão abaixo na linha da miséria, 2,4 milhões são jovens que vivem no campo, e isso é um desafio para um trabalho de uma Igreja comprometida com os pobres, preferidos por Jesus” afirmou o assessor da PJR Bahia, Gilmar Andrade.

Aconteceu : Juventude da PJR capixaba se reúne para debater a realidade dos jovens camponeses.

Os jovens camponeses capixabas que se organizam na PJR, reunidos no 2º Encontrão diocesano da PJR Capixaba, debatem os elementos da realidade da juventude do campo.
No encontro esteve Célia Kiffer, responsável pelo programa do governo do estado “valorização da juventude rural”, onde ela expôs os programas que o governo oferece. Nós da PJR apresentamos a ela nossas propostas.
O companheiro Valmir Noventa do MPA também contribuiu no encontro com uma analise de conjuntura agrária, onde ele levantou alguns elementos que apontam a importância dos camponeses para a soberania alimentar, trazendo em cada jovem presente uma reflexão de qual campo e agricultura que queremos para nosso povo camponês como sinal de vida e dignidade.
Durante todo o dia fomos animados pela mística da Mãe Terra também pelas canções do nosso povo.
EFA de Chapadinha, 21 de julho de 2011.

algumas fotos do encontro estão na pagina abaixo, clique e veja:

Um pouco da Nossa Mística pra todo Brasil

A Pastoral da Juventude Rural do estado do Espírito Santo – PJR Capixaba teve a oportunidade de no dia 22 de junho, no seu 2º Encontrão da Juventude Camponesa Capixaba,  mostrar pra todo Brasil, através do Programa Vida no Sul da TV Aparecida, um pouco de sua história, de sua identidade, de sua mística e de seu projeto. Gravando um programa sobre a juventude rural camponesa.
A PJR Capixaba procura, neste momento, reafirmar com muita convicção que a sua identidade é uma articulação indissolúvel entre fé e vida, portando é essa relação indissolúvel que nos move e nos alimenta.
Procuramos entender profundamente nossa realidade, analisa-la segundo nossa fé e identificar os rumos que precisamos tomar.
Nós Jovens camponeses, assim como Jesus o camponês de Nazaré, queremos que “todos tenham vida e a tenham em abundância”, e por isso assumimos uma outra postura diante sociedade, alimentados pela nossa fé, procuramos construir um outro projeto de campo, a Agroecologia.
A EXIBIÇÃO SERÁ NA TV APARECIDA, TV UNISINOS, TV URBANA do Sul do Brasil

Alex Nepel Marins - Pastoral da Juventude Rural - ES
Estudante do Curso de licenciatura em Educação do campo
UNIOESTE - VIA CAMPESINA
Monitor da Escola família de Vinhático - ES

Força na caminhada

julia leticia Helmer Brum
“Não foram vocês que me escolheram, mas fui eu que vos escolhi.”
(Jo 15, 16)
As palavras do jovem camponês de Nazaré, Jesus Cristo, nos cativam como seu povo escolhido, temos por missão lutar pela construção do reino de Deus, em prol de um projeto popular para o Brasil. Nessa luta somos alimentados por nossa mística, que nos dá coragem e força na caminhada.
A mística não é a nossa coragem, a nossa energia ou força, mas estes sim emergem da nossa mística, e nos permitem persistir na caminhada. Esta tem dois pilares fundamentais: uma raiz, cristã, pois somos guiados por Jesus Cristo, cremos na ressurreição e acreditamos em seu projeto de vida e sociedade, compreendendo que ser verdadeiramente cristão exige de nós doação, para estar ao lado dos injustiçados, na luta por libertação; camponesa, que revela a nossa identidade, a nossa intima ligação com a terra, e com o cuidado com a mesma; e por fim, nossa raiz que emerge da luta do povo, dos pobres, que nos faz buscar força e energia junto à história.  E um rumo, que nos leva a pensar no que queremos construir.
A mística educa nossa consciência e sustenta uma esperança, uma tarefa, uma identidade e nossa militância. Assim vamos cultivando a vida, o amor, e o cuidado com nossos companheiros, vamos rezando a vida, compartilhando os sonhos, e juntos lutando para termos vida, e vida em abundância.



 22 de julho de 2011

Sem perspectivas, 835 mil jovens deixam o campo em 10 anos


O êxodo rural na última década atingiu a marca de 835 mil jovens no país. Em números absolutos, o Paraná foi o segundo estado que mais perdeu população no campo com idades entre 15 e 24 anos, na comparação entre os censos de 2000 e 2010. Foram 73,9 mil baixas, um total só menor do que o verificado em São Paulo, que teve redução de 184,6 mil jovens. Proporcionalmente à sua população, o estado teve a 5.ª maior queda – 22,4% dos jovens que moravam no campo se mudaram para as cidades.
A reportagem é de Ismael de Freitas e publicada pela Gazeta do Povo, 15-08-2011.
Por outro lado, há estados brasileiros que ganharam população jovem rural na última década. O Pará foi o que mais teve acréscimo de jovens (53,5 mil), o que significa um aumento de 12%. Na proporção, Roraimafoi a unidade da federação que mais aumentou sua participação de jovens no campo, 24%, com acréscimo de 4,5 mil.
De acordo com estudo elaborado por Valter Bianchini, doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e ex-secretário de Agricultura do estado, o que mais dificulta a permanência de jovens no campo é a falta de lazer, renda e de projetos de incentivos e políticas públicas. Ele aponta também que nas propriedades com condições econômicas melhores, mais próximas aos centros urbanos e com melhor infraestrutura, a migração de jovens é menor.
Geral
A diminuição do crescimento geral da população é apontada como um dos principais fatores para o fenômeno da diminuição de jovens no meio rural na opinião do geógrafo Luiz Alexandre Gonçalves Cunha, mestre em Gestão do Território e doutor em Ciências Sociais pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
“Nessa faixa etária, os jovens estão procurando educação e trabalho, além disso, o crescimento vegetativo da população diminuiu a partir da década de 1980. O meio rural também está mais velho. A média de idade no campo hoje é superior aos 55 anos”, aponta.
Para o economista e professor da UFPR, Nilson Maciel de Paula, os centros urbanos ainda exercem uma grande atração sobre os jovens brasileiros. “Diferente¬mente de países como Estados Unidos e algumas regiões da Europa, o Brasil ainda não esgotou esse processo de migração. Aliado a esse aspecto, nos últimos anos houve uma atividade econômica mais intensa nas cidades, com geração de novos postos de trabalho, além de um certo apagão de mão de obra, principalmente nos setores têxtil e da construção civil”, diz. Na opinião do professor, falta também uma estratégia que torne o meio rural atrativo ao jovem.
De outro lado, o governo tenta fazer com que a população com idade entre 15 e 24 anos permaneça no campo, mas esbarra nas políticas de acesso à terra. “Existe crédito direcionado principalmente aos jovens de até 29 anos para o financiamento da produção, mas há requisitos específicos que tornam essa modalidade mais difícil. É preciso também uma política mais eficiente de crédito fundiário e reforma agrária”, afirma o engenheiro agrônomo da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado (Seab), Jeferson Vinícius Meister.

Funeral de um lavrador

 Texto de Paulo Ceriole

A placa improvisada na beira do asfalto que liga Monte Santo a Euclides da Cunha indica Mandassaia a mais ou menos dez quilômetros. Um estrada de terra corta o sertão até chegar ao povoado. O povo está aguardando próximo a uma casa o inicio do enterro. Dentro, num caixão, está Leonardo de Jesus leite. Companheiros e companheiras do movimento CETA, vindo de outros municípios, foram os que velaram o corpo, durante a madrugada.
São nove horas da manhã. O sol já se faz arder na pele. De repente o caixão é carregado para fora da casa e para em frente. O choro, já calado, aflora pelo irmão inerte. A procissão inicia. Como que combinado, uma nuvem esconde parcialmente o sol e uma leve brisa aparece. A dor está no ar, os gritos ecoam e o soluçar marca o ritmo dos passos.
Param novamente em frente de outra casa. Parece que nela está sua mãe. A esposa ainda está em choque. Um dos dois filhos, pois são gêmeos, agora com sete anos, se recusa a acompanhar, já que o pai não vai mais acordar. Alguns homens retirem as pessoas que choram e as levam para a casa. E a procissão reinicia silenciosa rumo ao fim do povoado.
Um silencio pesado, que fala de uma vida de luta que aos 37 anos foi ceifada por um tiro a mando do latifúndio. Alguns sussurram que foram três jagunços os que fizeram o serviço. E o silencio volta apenas quebrado pelos chinelos que levantam poeira da areia que existe naquele caminho do sertão, rumo ao cemitério.
Testemunha desta marcha fúnebre são as parcas roças de milho, a beira do caminho, onde as plantas estão queimadas pelo sol, que voltou a arder. Estas roças ressecadas são tristes testemunhas de que ali vivem lavradores e que, por falta de chuva, nem a semente será colhida e o cuzcuz provavelmente irá faltar na medida em que a fome irá nascendo.
O cantar de algumas mulheres, quebra o silêncio: “se a jornada é pesada ... segura na mão de Deus e vai”. Peso de uma vida sofrida, na esperança de ter um pedaço de chão. Como já não tem para quem apelar, se apegam em Deus, e continuam a marcha pela vida, pela conquista da terra partilhada da Fazenda Jibóia. O silêncio recomeça, cada vez mais triste. As poucas cabras que estão a beira do caminho, deixam de roer as cascas das árvores, para observar aqueles seres que passam.
O triste cantar recomeça: “lá vem Jesus cansado com o peso da cruz”: é um sofrido cansado que vem ao encontro de outro sofredor. Ali a morte ronda quem sonha com um pedaço de terra e uma vida orientada por um Projeto Popular. Já não há o que esperar das autoridades, nem de Monte Santo, local do quartel general dos militares que massacraram Canudos, anos atrás. Nem das autoridades da Bahia e muito menos das que estão em Brasília. E o silêncio volta a permitir que os últimos acontecimentos se tornem vivos na cabeça dos caminhantes.
De repente o passo se torna mais rápido. O cantar ecoa “estou pensando em Deus, estou pensando no amor”. Mas o canto é quebrado pelo “brado” de um jegue que olha admirado pela meia centena de motos estacionadas em frente ao muro branco do cemitério: até ele sente-se em desvantagem com as mudanças que estão chegando ao sertão. O que não muda é a existência de coronéis que se consideram dono da vida do povo, apoiados por seus jagunços, onde alguns usam ou já usaram farda, escuto num novo sussurro.
No portão do cemitério muitos batem os pés ou sacodem os chinelos. Não querem levar nenhuma poeira para aquela “terra santa”: ao entrar rezam uma Salve Rainha que se identifica com o “vale de lagrimas” já derramadas, mas que não serve para irrigar a seca do sertão. Depois rezam “Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, tende piedade dele” pedindo perdão pelo morto, por garantia, pois sabem que de sua vida e luta não há o porque pedir perdão.
Finalmente o caixão chega até a cova, sete palmos cavados na terra e na pedra, a base da picareta. Muitos olham para a cova e comentam sobre o esforço de quem cavou. O caixão é baixado na cova, com uma bandeira do CETA sobre ele, que o acompanhou em todo o trajeto. Fazem juras de que a luta, a vida de Léo não foi em vão. Depois cantam: “mataram mais um irmão ... mas ele ressucitará” em cada um de nós, disse um sertanejo, disposto a não arredar o pé da luta. A bandeira do CETA é retirada, pois o Movimento Estadual dos Trabalhadores Assentados e Acampados continua vivo. Os torrões e pedras são novamente jogados na cova, cobrindo o corpo no caixão.
No retorno a prosa flui. Perguntam se sou estrangeiro, pois sou o mais galego entre todos e respondo que não. Contam-me que um dos filhos do Léo perguntou: “Agora quem vai fazer reunião?” Outro disse: a vida é assim e o Senhor disse, “cresceu e multiplicai-vos”, só não entendi se falava das pessoas ou do CETA, talvez de ambos. E já é quase meio-dia do dia 8 de setembro de 2011. E escuto, de um senhor quase pele e osso: este sol resseca tudo, até gente.
E, colocando terra e pedras sobre o sofrimento, a vida e a luta continua, até que não haja mais grileiros de terra publica apoiados por políticos que criam leis para legitimar o avanço do capital. Mas, está é uma outra parte, desta mesma história.