A Mãe terra grita por Agroecologia, Da Mãe Terra Esperança e resistência.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

“Fechamento de escolas é atentado às comunidades rurais”

Salomao Hage (UFPA) , analisou o  resultado de pesquisa que revelou 37.776 escolas rurais fechadas em dez anos



Por Mayrá Lima
Da Página do MST


Dados do censo escolar do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), do Ministério da Educação (MEC), registram que 37.776 estabelecimentos de ensino rurais foram fechados nos últimos 10 anos em todo o país.
Para o professor da Universidade Federal do Pará (UFPA) Salomão Hage, a garantia constitucional do direito à educação foi substituída pela lógica da relação custo-benefício pelo poder público.
“As políticas públicas educacionais, há certo tempo, são orientadas pela relação custo-benefício, na perspectiva neoliberal. Os gestores públicos hoje são desafiados a apresentar cada vez mais resultados com cada vez menos financiamento”, afirma.
Hage acredita que essa é uma mágica difícil de materializar. “Como você pode atender mais, oferecer melhor qualidade, contemplar a diversidade em um país em histórica situação de negação de direito se o orçamento e investimento cada vez diminuem mais?”, questiona.
Para ele, a associação de desenvolvimento ao meio urbano é usada pela justificar o fechamento das escolas no meio rural. “O próprio poder público olha para esse processo de territorialização das populações do campo e rotula de disperso. Se está disperso, no sentido de estarem distribuídas ao longo do território, e se pode reuni-las, gastará menos de acordo com suas referências de qualidade. Assim começa o desenvolvimento das políticas de nucleação que, às vezes, não são de nucleação, mas de polarização”, critica.
Essa política desrespeita o Estatuto de Criança e dos Adolescentes (ECA), que indica que os educandos devem ser atendidos nas suas próprias comunidades. “As diretrizes operacionais para a educação básica no campo, as diretrizes complementares para as escolas do campo fortalecem essa ideia da necessidade da escola atender as crianças e os adolescentes, prioritariamente, na sua comunidade”, sustenta.
Leia entrevista à Página do MST com Salomão Hage, que coordena o grupo que estuda educação no campo na Amazônia e integra a coordenação do Fórum Paraense de Educação no Campo.
Como você avalia o fechamento de escolas por estados e municípios?
As políticas públicas educacionais, há certo tempo, vêm sendo orientada pela relação custo-benefício, por conta da perspectiva neoliberal. Os gestores públicos hoje são desafiados a apresentar cada vez mais resultados com cada vez menos financiamento. Isto é uma mágica difícil de materializar. Como você pode atender mais, oferecer melhor qualidade, contemplar a diversidade em um país em histórica situação de negação de direito se o orçamento e investimento cada vez diminuem mais? O resultado tem sido a aplicação de políticas educacionais que caminham no contraponto das demandas que os movimentos sociais do campo e da cidade, dos educadores, das universidades colocam como referência para a educação.
Como essa relação custo-benefício afeta as escolas do meio rural?
O Estatuto de Criança e dos Adolescentes indica que as crianças devem ser atendidas nas suas próprias comunidades. As diretrizes operacionais para a educação básica no campo, as diretrizes complementares para as escolas do campo fortalecem essa ideia da  necessidade da escola atender as crianças e os adolescentes, prioritariamente, na sua comunidade.  Isso significa o acesso pela comunidade aos conhecimentos historicamente produzidos e, em grande parte, as escolas são o único equipamento público existente. Por isso,  representam a presença do Estado naquela localidade. Onde a escola está presente, há uma movimentação da infância, da adolescência. A escola é espaço de reunião, de atividades culturais da comunidade, de discussão coletiva.
Qual o impacto da falta de escolas para crianças do meio rural, que vão estudar nas cidades?
As comunidades rurais em geral, estão distribuídas territorialmente de acordo com as demandas e as necessidades que as populações têm de sobrevivência, de trabalho, de relação que se estabelece com a terra, com a água, elas estão presentes há séculos. Há um processo de desenvolvimento sustentável a partir do processo de territorialização desenvolvimento destas localidades. Na medida em que o gestor é demandado para o atendimento - e não é um atendimento qualquer -  gestão publica cria alternativas pautadas por essa questão de custo benefício, que vai em sentido contrário às demandas e necessidades do processo de territorialização desenvolvido. 


O princípio também é inspirado por uma perspectiva 'urbanocêntrica'. Esse “desenvolvimento” é pautado na perspectiva do campo para a cidade, causando um processo de expulsão do campo na ideia de que, se eu concentro as pessoas posso atender mais, utilizando menos recursos. Uma coisa é atender 300 escolas distribuídas por todo o campo brasileiro, outra coisa é atender 20 escolas com as pessoas concentradas onde você não teria gastos com transporte, deslocamento e um conjunto de outras demandas para atender.
Como o Estado age nessa situação?
O próprio poder público olha para esse processo de territorialização das populações do campo e rotula de disperso. Se está disperso, no sentido de estarem distribuídas ao longo do território, e se pode reuní-las, gastará menos de acordo com suas referências de qualidade. Assim começa o desenvolvimento das políticas de nucleação que, às vezes, não é de nucleação, mas de polarização. Quando se aumenta o transporte escolar, você fecha escolas em comunidades mais distantes e reúne em comunidades rurais maiores ou traz para a sede do município. 
É essa perspectiva quantitativa da relação custo-benefício, a partir da perspectiva urbanocêntrica, que é aplicada pela gestão pública. Há ainda uma aceitação da sociedade, porque conseguem demonstrar que, por meio da oferta do transporte escolar, atendem toda a demanda e em todos os níveis. Isso acontece porque há uma  compreensão de que a cidade é o lugar do desenvolvimento, que consolida como natural esse movimento das pessoas se deslocarem do campo para a cidade.
O fechamento das escolas do campo pelo poder público segue esses princípios?
O fechamento das escolas é um atentado às comunidades rurais com o discurso de melhoria, ampliação e aumento da escolaridade. Só que não há lugar para todo mundo viver na cidade, no lado urbano. A população que vive nas cidades não vive essas promessas do desenvolvimento que a perspectiva urbanocêntrica apresenta. Quem vive bem na cidade? Quem vive no centro e quem tem um emprego significativo? A grande maioria vive muito mal na cidade, vive pior que as pessoas que vivem no campo. 


Nos últimos anos, foram fechadas mais de 30 mil escolas. Se a gente não abrir o olho. esse número amplia. Essa é uma luta que precisa unir todos os setores. Estamos na luta pelo Plano Nacional de Educação. O que nos une são as referências de qualidade da educação, a necessidade de um financiamento suficiente, a valorização e a formação dos profissionais de educação. Há uma luta pelos 10% do Produto |Interno Bruto para a educação cobra uma condição para desenvolver as escolas do campo e da cidade. 

No entanto, há demandas especificas do campo: apenas 30% das crianças são atendidas em nível de educação infantil no campo, segundo números do MEC. Com a emenda constitucional 59, consequimos que até 2016 o ensino será obrigatório dos quatro aos 17 anos. Como vamos atender as crianças menores, cujas mães trabalham no campo? Se a lógica é investir em transporte e deslocamento, como vamos fazer com as crianças de zero a 5 anos?
O discurso de que estão dispersas é uma forma pejorativa de tratar a territorialização das populações do campo, que se organizam de acordo com suas necessidades e com as relações que estabelecem com a floresta, com a terra, com a água. Não se pode simplesmente olhar para isso e dizer que é disperso.
Qual a sua avaliação das políticas públicas para a educação do campo, em nível nacional, nos últimos 10 anos?
Desde o final da década de 90, mais especificamente com a realização das conferências nacionais de educação do campo, com a criação e o fortalecimento de uma articulação nacional, que combina a participação dos movimentos sociais, universidades e setores do poder público voltadas para a questão da agricultura familiar e da Reforma Agrária, a gente tem dado passos significativos no sentido de pensar o campo brasileiro a partir da sua diversidade, demandas e necessidades, dentro da disputa política por outro projeto de sociedade.
O que avançou nesse processo?
O fortalecimento desse movimento foi capaz de fazer com que o MEC pudesse criar dentro da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade e Inclusão (Secadi)  uma coordenação de educação no campo.
A partir dela, foram criados alguns programas - como o Projovem Campo, o Saberes da Terra, o Procampo licenciatura plena e mesmo o Escola Ativa (que não teve uma discussão mais sistemática com o conjunto dos movimentos) - que começaram a provocar um certo movimento dentro da formação do educador, no âmbito da formação da prática educativa em todos os níveis de faixa etária. 
Além desses, teve avanços no Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), que foi criado da discussão entre o Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Incra.
Há um protagonismo desse movimento que se desenvolveu de modo a mostrar que os sujeitos do campo também são sujeitos de direito e as políticas publicas precisam atender as suas necessidades.
Vivemos um momento de fortalecimento dessa consciência da necessidade do atendimento e da necessidade de demarcar as especificidades dos sujeitos do campo. Com isso, consolida-se a ideia de que o campo tem como contribuir com esse projeto de desenvolvimento. E que sem o campo o desenvolvimento pode não resultar em uma proposta significativa.
Qual a reação à maior participação dos movimentos sociais?
Esse processo de protagonismo tem despertado um desconforto daqueles que tem um projeto diferenciado para o campo e para a sociedade brasileira. Enquanto os movimentos fortalecem os modos de produção familiar no campo e as lutas camponesas pela Reforma Agrária, o agronegócio também está em franca expansão com um significativo financiamento, que entra em contradição com esse avanço que o movimento social vem desenvolvendo.
Insatisfação essa que, historicamente, foi construída na representação social que os povos do campo seriam atrasados e a agricultura familiar um projeto de fome, que não tem como contribuir para o desenvolvimento.
Ao mesmo tempo, o projeto do modo de produção familiar se apresenta como uma alternativa viável para o desenvolvimento com base na sustentabilidade, na economia solidária e nos princípios de educação crítica e transformadora. Essas disputas de hegemonias começam a fluir e os ataques vêm da mídia, das grandes corporações e, essencialmente, de instituições que, embora públicas, são direcionadas pela perspectiva privatista, patrimonialista.
Quanto mais avança, maior a reação desses setores?
É isso que a gente tem vivido de forma mais intensa nos governos Lula e Dilma.  No governo Lula, conseguimos avançar mais no diálogo entre os movimentos sociais, as universidades e o setor público, no sentido de apresentar editais, os programas, de formular legislações que pudessem reconhecer esse outro projeto, essa outra intencionalidade.
Projetos promovidos durante o governo Lula foram se ampliando, até que, com as reações, começaram a sofrer e ter a continuidade comprometida. Embora Pronera estivesse assegurado com o decreto, virou política pública.
Outros programas, com o próprio Procampo, estão ameaçados de serem substituídos pelo Pronacampo. Esse novo programa está sendo construído sem o diálogo com os movimentos sociais e com as universidades.
E no que a educação contribui para essa disputa de modelo de sociedade?
A educação conseguiu estimular a relação de movimentos sociais, universidades, setores do poder público mais alinhados com esse outro projeto de sociedade e de educação, na relação direta entre educação e trabalho, educação e desenvolvimento, na formulação de outro projeto de sociedade.
Na medida em que isso se consolida e se apresenta como uma proposta viável, que atende às necessidades da maioria, os blocos hegemônicos - que se orientam por outra perspectiva, por uma sociedade excludente, elitista e discriminatória - reagem em todos os sentidos para deslegitimar esse projeto.
Esses resultados são suficientes?
Essa situação de negação de direitos, não só para o campo, mas também para a população que mora nas periferias das grandes cidades, para as classes populares da sociedade brasileira é histórico. Tem pelo menos cinco séculos de existência. Não seriam 10, 12 ou 20 anos de protagonismo e tentativa de redimensionar o atendimento educacional que seriam suficientes para superar os níveis de pobreza da sociedade, que em sua grande maioria está no campo.
A precarização do campo data desde o inicio do Brasil enquanto Nação, mas esse  protagonismo tem se fortalecido com essa nova articulação. Mas há reação com a criminalização dos movimentos sociais, que são acusados de receber dinheiro dos órgãos públicos para fortalecer suas organizações.
E no que essa falta de diálogo e participação dos movimentos sociais na construção de novas políticas para a educação pode significar?
A falta de dialogo pode significar a não continuidade dos programas desenvolvidos como resultado dessa articulação entre os movimentos sociais e o poder público. Poderá significar um afastamento maior do MEC, da Secadi e da própria coordenação de educação no campo. Na medida em que se constrói novos programas e novas diretrizes sem a interlocução com os movimentos sociais e as universidades, esse afastamento tende a se fortalecer. Pode se configurar num programa que não atenda às necessidades e demandas.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Economia Popular Solidária, Cooperativismo e Agroecologia: três pilares para elaborar alternativas com a juventude camponesa.


O X Seminário Nacional da PJR tem apresentando discussões que buscam responder a questões tangentes a transformação da realidade da juventude camponesa. A efetivação de experiências de Grupos de Produção e Resistência tem animado os mais de 120 jovens presentes na atividade.

Momento místico onde se rezou a Mãe Terra.

No sábado e domingo (21 e 22) o estudo sobre a agroecologia teve atenção especial. O tema foi conduzido por três jovens participantes de grupos da PJR e que estudaram em Escolas de Agroecologia vinculadas a movimentos sociais do campo.

Agroecologia: o desafio de alimentar a população sem destruir o meio ambiente.

Gilmar dos Santos Andrade, baiano de Monte Santo, graduou-se em Agroecologia pela ELAA - Escola Latino Americana de Agroecologia, situada em Lapa/PR.  Nesta m esma ELAA estudou Gilvania Domiciano de Amorin, mineira de Divino. Já a capixaba Poliane Dutra cursa Mestrado em Agroecologia na Universidade de Havana/Cuba, num curso voltado para estudantes ligados a movimentos sociais do campo. Os três militantes da PJR explanaram conceitos atuais no campo da agroecologia, proporcionando aos jovens refletir sobre esta importante temática.

A grande carga de agrotóxicos despejada nas lavouras brasileiras, orientadas num projeto capitalista de agricultura é uma preocupação permanente. “Se dividirmos a quantidade de litros de agrotóxicos utilizados no Brasil anualmente, pelos 190 milhões de habitantes, notaremos que cada brasileiro bebe mais de 5 litros de agrotóxicos por ano, que vem através dos alimentos que comemos. Isso é preocupante” alertou Gilmar.

Para superar este quadro de agricultura que visa apenas o lucro em detrimento da saúde humana a agroecologia é apontada como uma saída. “Há técnicas para se produzir alimentos sem utilizar agrotóxicos, diversas experiências tem funcionando pelo mundo inteiro” informou Gilvania.

Porém, o campo da agroecologia se depara com grandes desafios, como reflete Poliane “o desafio é produzir sem agrotóxicos, respeitando o meio ambiente, respeitando quem trabalha no campo, e também dando conta de garantir a alimentação para toda a população brasileira”.

Gilvania explanando sobre os desafios da agroecologia.

Economia Popular Solidária: inserir a juventude em redes de comercialização solidárias.

No domingo e na segunda (22 e 23) um dos temas tratados foi a Economia Popular e Solidária. O agente da Cáritas, Ademar Bertucci, construiu um panorama sobre a economia atual, colocando as diferentes entre a Economia Capitalista, voltada para a produção de lucros e a Economia Popular Solidária, que é orientada na perspectiva de incluir as pessoas em projetos que promovam a distribuição das rendas obtidas com o trabalho.  
  
“Pensar em alternativas para a juventude camponesa permanecer no campo implica em pensar numa outra lógica de economia. Organizar grupos de jovens para produzir numa lógica capitalista é negar os princípios do evangelho” comentou o mineiro Eduardo.

Jovem que cooperar tem mais chances de permanecer no campo.

Na tarde desta segunda-feira (23) o dirigente do MST/ES Juraci Porto, explanou alguns conceitos relacionados ao cooperativismo na agricultura familiar e camponesa. A partir do estudo refleti-se sobre a necessidade de incentivar a cooperação entre os jovens, estimulando a criação de grupos de produção.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Dom Emanuel Messias visita o Seminário Nacional da PJR e deixa sua mensagem de esperança: “Não temais!”


Na ensolarada tarde mineira de sábado (21), o Bispo de Diocese de Caratinga/MG, esteve presente no X Seminário Nacional da PJR, deixando sua mensagem de acolhida e animação para o trabalho pastoral.  

Bispo saudando a juventude.

O Bispo se colocou de “coração aberto” com os jovens camponeses, como uma “presença amiga, de quem acolhe”.Em sintonia com o tema “A Mãe Terra grita por Agroecologia”, Dom Emanuel mencionou a importância de se realizar trabalhos em defesa da vida. “É a vida que está em jogo. É necessário defender a vida da morte que vem com os agrotóxicos e também com as barragens e outros projetos”.

Dom Emanuel proferiu a mensagem se referindo ao Evangelho de São Mateus: “Não temais” diante dos desafios que se apresentam pra juventude. “Estamos motivando os padres para uma abertura maior a tudo que venha a defender a vida da juventude” concluiu o Bispo.

Delegação mineira em foto com D. Emanuel.

A Coordenação Nacional da PJR, através do Secretário Laécio Vieira, agradeceu a presença do Bispo  e o presenteou com uns matérias que abordam temas relacionados ao trabalho pastoral com juventude rural.

Coordenação da PJR entregando materiais ao bispo.

Experiências Agroecológicas são o foco do segundo dia do Seminário Nacional da PJR.


Alegria, animação, diversidade, esperança. O segundo dia do X Seminário Nacional da Pastoral da Juventude Rural foi marcado pela partilha de experiências agroecológicas. Pela parte da manhã os jovens dos estados da Bahia, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais apresentaram experiências de agroecologia ligadas a Grupos de Produção e Resistência.
Momento de estudo sobre agroecologia.

O jovem Gilmário de Monte Santo, BA, apresentou a experiência do Grupo de Produção e Resistência da Comunidade Riacho da Onça. O grupo cultiva umbu e beneficia doces derivados desta fruta. Esta iniciativa de organização envolve seis famílias.

A jovem Beatriz, de Nova Venecia, ES, apresentou a experiência agroecológica de produção de galinhas onde o principio é o desenvolvimento da avicultura de base ecológica integrada ao café conillon no sítio dois irmãos – ES. Esta iniciativa surge da necessidade de diminuir a mão de obra com capina e roçada, através do biocontrole de plantas espontâneas, conseqüentemente reduzindo também os custo de produção e na intenção de aumentar a capacidade produtiva do café potencializando o ciclo energia interna, a partir dos dejetos depositados pelas aves, condição essa permitida pelo pastejo rotativo. Com apenas dois anos de experiência esta tecnologia agroecológica já é adotada por mais famílias do noroeste capixaba.

O jovem Cristiano, de Arroio do Meio, RS, partilhou sua experiência de cultivo de cana-de-açúcar e produção de melado. Com meia hectare de terra o jovem camponês gaúcho consegue produzir cana-de-açúcar, consorciado com pasto. Ele também cria uma vaca para produção de queijo e um porco para produção de carne.  Cristiano vive com sua mãe e produz melado de cana-de-açúcar, o qual é vendido em feiras em Arroio do Meio e Lajeado. A renda obtida com o melado, somado com a produção de alimentação da família é o que garante o sucesso da experiência agroecológica, que permite a Cristiano não precisar migrar para a cidade. “No começo as pessoas não acreditavam que seria possível trabalhar sem utilizar veneno, mas agora a agroecologia é uma realidade” concluiu Cristiano.
O jovem Martin apresentou as experiências agroecológicas que são desenvolvidas nas parcerias entre o CTA (Centro de Tecnologias Alternativas) e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Espera Feliz, que envolvem vários jovens.

Pensar e praticar a agroecologia.
A parte da tarde teve dois momentos. No primeiro o poeta e agricultor Amauri Adolfo conduziu um momento de reflexão sobre o corre-corre da vida atual, onde os jovens e as pessoas de maneira geral não tem tempo para pensar, discernir e cuidar do meio ambiente. Sentados no gramado verde, debaixo da sombra das árvores, os jovens ouviram belas palavras deste poeta agricultor; lições de vida sobre o cuidado com a terra e o próximo.


“Foi importante por que o Amauri fez a gente pensar sobre o que é agroecologia, e que tem a ver com uma postura de vida em harmonia entre todos os seres” afirmou o jovem catarinense Maicon Perdesseti.

No segundo momento da tarde os jovens visitaram a propriedade que utiliza praticas agroecológicas do Seu Tibúrcio no interior do município de Espera Feliz. O camponês produz café, consorciado com banana, feijão, milho e pasto para as vacas. Toda propriedade é cultivada sem o uso de agrotóxicos. O foco principal da produção de Seu Tibúrcio é o café, porém o agricultor busca produzir o máximo de produtos para sua subsistência e também para comercializar na feira do produtor.

Visita a experiência de métodos agroecológicos do Seu Tibúrcio.

“A visita foi muito importante para saber quais são os desafios de quem produz agroecologicamente. É interessante perceber que ele consegue fazer toda produção agroecológica, consegue sustentar sua família e manter um equilíbrio bacana entre agricultura e meio ambiente” destacou a potiguar Mayara Suelirta.

Momento de animação.

O X Seminário Nacional da PJR seguirá até o dia 25 de janeiro. Os mais de 100 jovens presentes de diferentes regiões do país seguem animados discutindo questões pastorais de cuidado da vida dos jovens e do meio ambiente.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Jesus Cristo, o jovem camponês de Nazaré.


O Seminário Nacional da PJR iniciou com o estudo sobre a vida de Jesus na realidade camponesa da Palestina no século I.


Mais de uma centena de jovens de diversas partes do Brasil estão reunidos em Espera Feliz-MG no X Seminário Nacional da PJR. Nesta quinta feira (19) o tema central do seminário foi discutir a realidade e o seguimento de Jesus Cristo.

A partir da leitura da Bíblia Sagrada, com a ajuda do professor de teologia Paulo Cerioli( Osfs) foi estudado o período histórico e a realidade social da Palestina no século, cenário onde viveu Jesus Cristo. Um dos aspectos destacados foram os aspectos camponeses que constituíam a cena social palestina da época. 

“Nós só podemos seguir a quem conhecemos. Um jovem cristão não pode seguir Jesus Cristo sem conhecer o que ele disse e o que ele fez naquela tempo, para descobrirmos como seguir seus passos nos dias de hoje”, afirmou o gaúcho Juliano Pisoni.

“Ficou mais claro o estudo sobre a vida de Jesus. É muito importante entender estes aspectos para trabalhar com os outros jovens” afirmou a baiana Vigna Oliveira.

O Seminário seguirá nos próximos dias com temas relacionados a discussão de questões pastorais e agroecologia.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Minas Gerais receberá o X Seminário Nacional da PJR.


A Evangelização da Juventude e a agroecologia serão temas centrais desta atividade nacional.


Da Redação

Começará na terça-feira (18) o X Seminário Nacional da PJR, na cidade de Espera Feliz, Diocese de Caratinga/MG. São esperados mais de 150 lideranças de grupos de jovens rurais de todo o país. Com o lema “A MãeTerra grita por agroecologia” este seminário pretende debater alternativas de produção agrícola numa perspectiva sustentável, inspirados em valores evangélicos.

“Já fazem alguns anos que a PJR discute a criação de alternativas para o jovem poder desenvolver na roça. Os GPR - Grupos de Produção e Resistência - fazem parte desta iniciativa e é um bom momento para compartilhar estas experiências em nível de Brasil. O tema de produzir sem agrotóxicos, que agridem o meio ambiente e as pessoas, é urgente. ”comentou Gilmar Andrade, que desenvolve uma experiência de GPR juntamente com seus irmãos e amigos do grupo de jovens da comunidade de Riacho da Onça, situada no município baiano de Monte Santo.

“Será um espaço de troca de experiências agroecológicas e pastorais. Além de estudar temas ligados a questão da agroecologia, a pauta da evangelização da juventude estará presente, pois serão estudado os documentos da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB em vista de uma caminhada pastoral mais orgânica e também a Jornada Mundial da Juventude”, afirmou Laécio Viera, um dos organizadores do evento.

A atividade vai até o dia 25 de janeiro e terá cobertura completa por este blog. Fique ligada e ligado!

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Capitalismo: uma história de amor!


Documentário  relata a crise econômica nos EUA.

Por Leidiana S. Paula (PJR Capixaba)

O filme de Michael Moore é um vídeo - documentário - que nos mostra bem claro como o capitalismo é capaz de alienar e congelar o pensamento e a ideologia das pessoas; Nos mostra também como ele conseguiu criar uma bolha de ilusão nos Estados Unidos,  que a partir da Segunda Guerra Mundial, sobre os escombros de outras grandes potências como o Japão, Alemanha e Inglaterra, cujo parque industrial se encontrava totalmente destruído,  funda uma Classe Média Burguesa baseada nos ideais da liberdade, uma classe media prospera e feliz.

E foi exatamente esse modelo, de “Capitalismo dos Sonhos’’ que os Estados Unidos exportou esse tempo todo para o resto do mundo, como se fosse à sociedade ideal, perfeito e possível de ser atingida por todos.

Moore  apresenta uma analise critica e algumas vezes bem sarcástica  da economia americana, desde a sua independência ate os dias atuais e aborda ainda uma discussão histórica entre o Capitalismo e a Democracia Popular.

Mostra  bem claro o uso das propagandas comerciais,  que Moore utiliza como respaldo para explorar o tema da ultima “Crise Econômica Mundial’’, que começou nos Estados Unidos através das Corretoras Imobiliárias. 

Consegue fazer também uma abordagem histórica – linear, mostrando que a historia muda com o passar do tempo, às vezes bem mais rápido do que se deseja e espera; Ele usa isso para comparar logo no inicio o Império Romano ao Império Norte Americano reacionário, e foca principalmente a “Crise Financeira de 2008” que assolou e desesperou muitos países do mundo.

A principal causa dessa crise foi a falta de liquidez bancaria, ou seja, para cada dólar emprestado, os bancos deveriam ter um dólar em “Cash Money”, o que não ocorreu. Todos os bancos emprestaram mais do que podiam e acabaram indo a falência total.
O que o bom senso dizia ser mentira a historia confirmou...

A crise do sistema, que se iniciou, e como já citado pelo estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos, o que gerou não só a quebra de vários bancos, mas também a quebra de inúmeras financiadoras, o que jogou a classe media numa situação de penúria digna dos chamados países de “Terceiro Mundo”. E foi exatamente o que levou famílias inteiras totalmente iludidas por peças de marketing mentirosas, que pregavam idéias mirabolantes,  a investir no Cassino chamado “Bolsa de Valores”; Como já se previa a conseqüência dessa loucura e idiotice foi tremenda e dolorosa, todas as famílias que tinham investido perderam tudo,  e viram suas vidas serem destruídas em questão de dias.

Pessoas comuns foram expulsas de suas casas como bandidos e passaram a sentir na pele a crueldade do Sistema Capitalista.O que fica claro no documentário de Moore, é o envolvimento do Governo com as grandes corporações, e principalmente o uso das propagandas eleitorais e dos discursos políticos, o que evidencia as contradições entre o discurso e a pratica dos políticos no senado americano. Sem falar nos acordos vantajosos que são fechados entre políticos e grandes empresas. E sem esquecer também dos Juízes, como é o caso “PA Child Care”, onde o Juiz Conner fechou o “Centro de Assistência ao Menor” pelo valor de 50 milhões de dólares, o que foi um valor muito alto.

No inicio dessa bagunça toda, surge uma Revolução Popular Operaria Americana em que as famílias resistem aos despejos judiciais em suas casas, onde a massa popular decepcionada protesta contra o fechamento de grandes e pequenas fabricas.

Um forte exemplo disso é a General Motors GM Americana, que no Brasil é conhecida como Chevrolet; Uma empresa que depois de muitos anos de dedicação e trabalho (com exploração dos trabalhadores) para chegar ao topo e ser o que era, é atingida de cheio pela crise econômica e se vê obrigada a demitir todos os seus empregados e fechar as portas literalmente.
O sistema econômico mais feroz já criado pelo homem vem cobrar o que lhe foi prometido, o que lhe foi acordado,  e assim poder levar a tão sonhada “Fatia da Torta”da classe media americana,que já não existe mais, porque a torta toda se encontra nas mãos de apenas 1% da população, os mais ricos do pais.

No começo do desenvolvimento do sistema capitalista, quando este se apresentava de forma amigável e como solução de todos os problemas existentes, foi prometida a classe média americana que essa tortinha iria crescer e crescer,  e cada um teria direito e acesso  ao seu pedaço de torta.

Barack  Obama retomou esse discurso insano e louco na sua candidatura e tentativa de ganhar as eleições para Presidente dos Estados Unidos; Ele prometeu e afirmava firmemente que cada americano teria o seu ‘‘pedaço de torta’’, no qual foi taxado pela oposição (os republicanos) de ‘‘Socialista’’, o que foi um insulto para todos os movimentos e partidos de esquerda(realmente de esquerda) de todo o mundo.

A oposição para combater Obama, usou um dos mais velhos e mentirosos discursos, prometeu que ninguém iria mexer na torta de ninguém, que a ‘‘propriedade privada’’ e a liberdade estariam garantidos na América do Norte.

Não era bem isso que a ‘‘Antiga Classe media’’, e atual ‘‘Classe Trabalhadora Pobre’’queria, os mais atingidos pela Crise econômica; Principalmente os proprietários de imóveis que tiveram suas vidas afetadas diretamente, e que tiveram suas casas hipotecadas, e os operários que tiveram suas fabricas fechadas, sem receber nada pelo tempo de trabalho, ou melhor, de exploração, sem os seus direitos trabalhistas.

Enquanto os ‘‘Bancos da Wall Street’’ foram ressarcidos de todas as perdas na crise, através de transferências vultuosas de dinheiros oriundos do Governo Americano, no qual foi usado para pagar polpudos bônus aos seus executivos. E os capitalistas que mais defenderam e defendem a liberdade sem a intervenção governamental, foram os que mais receberam ajuda do governo.

Uma outra realidade, que ficou bem clara, foi a situação dos pilotos de avião, que usam vale refeição , porque o salário que recebem é miserável devido ao que exercem.
As greves gerais se tornam necessárias e os operários, ou melhor, toda a ‘‘Classe Trabalhadora’’ não devem ter medo de lutar por seus direitos pelo que é seu e não da burguesia, e como cita Michael Moore no filme... ‘‘O Sistema Capitalista realmente é um Sistema de dar e retirar... Mais de retirar do que dar!

Michael Moore conseguiu mostrar em seu documentário elementos reais e ficcionais ao mesmo tempo, uma historia do passado e da atualidade, e conseguiu deixar bem claro quem são os mocinhos e quem são os vilões da historia. E vemos que realmente o Capitalismo é como uma Historia de Amor, que começou de forma linda, inocente, acabando em uma tragédia cheia de mentiras, abuso excessivo e traição.

O que levou ao atual estado econômico que os Estados Unidos se encontra, foi o desinteresse total do povo, manipulado e alienado pelo Sistema Capitalista.... As pessoas vêem suas vidas cada vez mais dependentes e miseráveis, tudo isso por causa de um sistema corrompido pela grande margem de lucro.

Moore consegue deixar bem claro quais são as problemáticas que o Sistema Capitalista trouxe aos estados Unidos, e também as conseqüências que trouxe para o resto do mundo, tendo em conta o grande Poderio Econômico Norte Americano.

Sendo assim ainda vemos pelo mundo sinais e reflexos da crise norte americana que não chegou ao fim e que está levando muitos países a ruína econômica.... e essa historia ainda não terminou, e está muito longe de terminar!!!

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

CPT faz balanço da Reforma Agrária em 2011




O início de 2011 foi marcado pela perspectiva de que o governo da Presidenta Dilma pudesse percorrer o caminho para superar os desafios e impasses históricos da Reforma Agrária no Brasil. Com o apoio da maioria no Congresso Nacional, a nova Presidenta teria, nesse campo estratégico, condições políticas para impulsionar um processo de Reforma Agrária, o que nunca foi feito no Brasil.

Apesar dessas legítimas expectativas, o que se configurou na prática foi que o Estado brasileiro direcionou toda a sua energia para garantir o avanço de um modelo ultrapassado de desenvolvimento para o país, com um perfil concentrador de renda, prejudicial ao meio-ambiente e às populações tradicionais.

De fato, as diretrizes política e econômica do governo são as mesmas do grande capital. Como consequência desta opção, os maiores impactados foram os trabalhadores e trabalhadoras rurais, as comunidades tradicionais, indígenas, posseiros, ribeirinhos, toda a diversidade de povos que vivem no campo brasileiro e a mãe Terra.

De um lado, isso reflete uma violência e o abandono do povo excluído. Do outro, tem provocado um momento de retomada de mobilizações e independência dos pequenos, frente à traição de quem julgavam ser aliados. Essa importante retomada vem acontecendo em toda América Latina.

No Brasil, a obsessão do Governo da Presidenta Dilma pela implantação de grandes projetos e pela produção ilimitada de commodities tem levado as populações tradicionais, indígenas e camponeses a retomarem seus originais métodos de protesto. Exemplo emblemático disto é o debate em torno da Hidroelétrica de Belo Monte e do Código Florestal.

A Reforma Agrária agoniza

Os números da Reforma Agrária deste governo, em relação às famílias assentadas, foram ainda piores do que o primeiro ano do governo anterior. Em 2011, somente 6.072 famílias foram assentadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). O número é pífio e insignificante diante da quantidade de famílias acampadas que se encontram do outro lado das cercas do latifúndio do agronegócio. De acordo com estimativas do próprio Incra, existem aproximadamente 180 mil famílias debaixo da lona preta em todo o país.

De um lado, o número insignificante de desapropriações. Do outro, um imenso contingente de famílias sem terras. Esta realidade se choca com outra: a da grande disponibilidade de terras improdutivas e devolutas no país. Os dados oficiais mostram que mais de dois terços das propriedades de grande e médio porte não cumprem com sua função social. Terras improdutivas, assim como as devolutas, deveriam ser destinadas imediatamente para fins de Reforma Agrária, no entanto já possuem um destino definido: o agro-hidronegócio e os projetos de desenvolvimento.

Mesmo nas áreas de assentamentos, continuou faltando política de Estado. Neste cenário de total ausência de incentivo à agricultura camponesa, muitas famílias foram mantidas à mercê do capital, de seus interesses e de seus instrumentos de controle e de exploração. Nas regiões de monocultivo da cana-de-açúcar, por exemplo, as Usinas ocupam o vácuo deixado pelo Estado e se apropriam do território camponês, oferecendo financiamento, infraestrutura e assistência técnica às famílias, tornando-as reféns da lógica definida pelo modelo de produção do agronegócio.

Por outro lado, o Governo não mediu esforços para garantir o avanço do agronegócio e do latifúndio, principalmente sob áreas tradicionalmente ocupadas por camponeses e camponesas. Um dos exemplos mais marcantes aconteceu em maio, quando a presidenta Dilma assinou de uma única vez, o decreto de desapropriação de quase 14 mil hectares na Chapada do Apodí/RN, para implantação do Projeto de irrigação que beneficiará meia dúzia de empresas do agronegócio. Em consequência, serão atingidos e prejudicados milhares de pequenos agricultores que desenvolvem experiências de convivência com o semiárido, reconhecidas internacionalmente.

É espantoso que Lula, em seus últimos anos de governo, não tenha chegado a desapropriar 14 mil hectares para a Reforma Agrária no RN e que Dilma, muito provavelmente, não desaproprie 14 mil hectares para essa finalidade em todo o seu governo. Entretanto, logo no seu primeiro ano de mandato, ela já desapropriou essa grande quantidade de terras para atender ao agronegócio. Além deste caso, vimos também a desapropriação de cerca de 8 mil hectares na região de Assú, também no RN, para a Zona de Processamento de Exportação (ZPEs).

Para os Povos indígenas e quilombolas que travam no dia-a-dia um embate pelo direito a terra, enfrentando a chegada do agronegócio e dos projetos governamentais, não há o que comemorar em 2011. Foram homologadas apenas três terras indígenas, sendo duas no estado do Amazonas e uma no Pará. O Governo não se sensibilizou nem com a situação dos povos indígenas de Mato Grosso do Sul, em especial os Kaiowá e Guarani, que vivem em conflito com fazendeiros e usineiros da região. Nenhuma ação foi feita para homologação das terras neste estado. No caso das populações descendentes de Zumbi dos Palmares, fora a desapropriação do território da comunidade de Brejo dos Crioulos, em Minas Gerais, poucos foram os resultados conseguidos frente às reivindicações e resistências das 3,5 mil comunidades quilombolas existentes no Brasil. De todas, apenas 6% tem a titulação de suas terras.

Também em 2011 foi dada a concessão, pelo Ibama, da licença de instalação para a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA), o que possibilitou o início das construções na região. Belo Monte é uma das principais obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a primeira de inúmeras usinas a ser instalada na região Amazônica para beneficiar as grandes mineradoras, devastar a floresta e acabar com a forma de viver dos índios. Com ela, expande-se sobre a floresta o modelo de exploração e degradação planejado há 50 anos pelo grande capital.

Na contramão do que reivindicam as populações tradicionais e os sem terras, o Governo ainda anunciou uma redução do orçamento da Reforma Agrária para 2012. De acordo com o projeto de lei orçamentária previsto para o ano que se avizinha, as ações de obtenção de terras terão uma drástica redução de 28% em relação a 2011 e de 31,2% em relação a 2010. Além disso, a assistência técnica, já inviabilizada pelo Governo nos anos anteriores, ainda sofrerá uma redução de 30% em relação a 2010. Para a implantação de infraestrutura, o orçamento prevê uma perda de 8% em relação a 2011. Já a área da educação sofreu uma perda de quase R$ 55 milhões em comparação a 2009, correspondendo a uma redução de 63% de seu orçamento.

O Retrocesso continuou também na lei. O ano se encerra com mais uma vitória da Bancada Ruralista. A aprovação do Código Florestal no Congresso Nacional ultrapassou as expectativas dos aliados da motoserra no Governo. Com retrocessos históricos, o Código prevê, entre outros exemplos gritantes, a anistia aos desmatadores anteriormente a julho de 2008, no que diz respeito ao dever de recuperação ambiental. Posição esta, aquém do entendimento consolidado até então pelo conservador Poder Judiciário brasileiro.

Como se não bastasse, a Lei complementar de nº 140, no que se refere à gestão ambiental, foi sancionada pela presidenta Dilma no final do ano, sem alardes. Com a aprovação da lei complementar, as competências de gestão ambiental ficam diluídas nos Estados e nos Municípios, que são muito mais vulneráveis a pressões políticas e empresariais.

A nova ameaça de retrocesso em curso é o lobby para um novo Código Mineral, que vem sendo redigido no Governo e no Congresso Nacional, sem o debate e sem a participação da sociedade e das populações diretamente interessadas e que serão atingidas, em sua grande maioria comunidades tradicionais.

Enquanto isso, avançam os grandes projetos de forma truculenta

Em 2011, obras impactantes como a Transposição do Rio São Francisco, a Transnordestina, projetos de mineração, construções de BR's, a especulação imobiliária, obras da Copa, Porto de Suape, a construção da Hidrelétrica de Belo Monte e do Rio Madeira, barragens, além de outros mega-projetos, foram um dos principais causadores de conflitos agrários no país.

Para se ter uma ideia da gravidade desses efeitos sobre as populações tradicionais, no período de janeiro a setembro de 2011, registramos um total de 17 assassinatos de trabalhadores no campo. Destes assassinatos, pelo menos 8 têm ligações com a defesa do meio ambiente, 04 estão relacionados com as comunidades originárias ou tradicionais.

Em Alagoas, ocorreu o avanço do projeto de plantação de Eucalipto por parte do Grupo Suzano, especializado na fabricação de papel e celulose. O Grupo reivindica uma área de 30 mil hectares para viabilizar o investimento. O Governo do Estado já sinalizou positivamente e já tem mapeadas as terras que serão destinadas para a plantação do monocultivo.

Na Paraíba, outro fato emblemático foi o apoio incondicional do Governo para a implementação de uma Fábrica de Cimentos da Empresa Elizabeth em uma área de assentamento no litoral sul do Estado. A área que será ocupada pela Empresa também é reivindicada pelo povo indígena Tabajara.

Em Pernambuco, a Transnordestina atingiu as comunidades camponesas por onde tem passado, desde o Sertão, como o caso do município de Betânia até a Zona da Mata, como as famílias de Fleixeiras, no município de Escada, que resistiram bravamente ao despejo que daria lugar aos trilhos da Ferrovia.

Lutas e Resistência Camponesa em 2011

Os camponeses e as camponesas continuam lutando pela Reforma Agrária e resistindo ao avanço do latifúndio e do agronegócio. Mesmo diante de todas as dificuldades impostas pelo Estado e pelo agronegócio, estes camponeses teimam em reescrever a história. Das 789.542 famílias assentadas nos últimos dez anos, 87% permanecem resistindo e produzindo no campo, sem qualquer tipo de incentivo governamental para a agricultura camponesa.

Apesar da diminuição das ocorrências das ocupações e acampamentos em 2011, aumentou o número de famílias envolvidas nestes conflitos de luta pela terra. Este ano, de acordo com os dados parciais da CPT, foram 245.420 pessoas envolvidas no período de janeiro a setembro de 2011, enquanto que no mesmo período de 2010, foram 234.150 pessoas envolvidas.

Registramos em 2011 mais de 350 mobilizações no país, protagonizadas pelos povos do campo. É como se em cada um dos 365 dias do ano, camponeses e camponesas organizados se mobilizassem em defesa da Reforma Agrária, dos direitos dos povos do campo e pelos territórios dos povos originários e de uso comum.
Algumas grandes mobilizações marcaram este ano que se encerra. Em agosto, cerca de 70 mil mulheres camponesas ocuparam as ruas de Brasília, reivindicando seus direitos, durante a Marcha das Margaridas.

Naquele mesmo mês, mais de 4 mil trabalhadores rurais sem terra ligados à Via Campesina montaram acampamento na capital federal, exigindo do Governo o compromisso com a Reforma Agrária. Por sua vez, “Aperte a Mão de Quem te Alimenta”, foi o nome da marcha realizada pelo MLST, de Goiânia até Brasília, e que explicitou a importância da produção agroecológica e da criação de assentamentos para garantir alimentos saudáveis, sem utilização de agrotóxicos.

Mais recentemente, cerca de 15 mil pessoas foram as ruas em Juazeiro e em Petrolina protestar contra a proposta do Governo de construir cisternas de PVC, que vai contra toda a metodologia de relação com o semiárido, construída pelas populações ao longo dos anos.

Além dos trabalhadores e trabalhadoras rurais sem terra, os quilombolas e indígenas também estiveram firmes em suas manifestações em 2011. Durante o mês de maio, os povos indígenas realizaram uma de suas maiores mobilizações, o acampamento Terra Livre, realizado em Brasília e que reuniu centenas de indígenas de mais de 230 povos de todo o país para apresentar suas principais reivindicações. Já no início de novembro, mais de dois mil quilombolas estiveram reunidos em Brasília, quando ocuparam pela primeira vez o Palácio do Planalto durante a Marcha Nacional em Defesa dos Direitos dos Quilombolas.

2012: Marcharemos na Luta pela Reforma Agrária

Apesar do Estado brasileiro e de seus governantes condenarem a Reforma Agrária à morte, ela segue a cada dia pulsando com mais intensidade nas veias dos camponeses e das camponesas, como se ouvissem os ecos do compromisso de Elizabete Teixeira, na ocasião do sepultamento do seu companheiro: "Continuarei a tua luta". Este é o chamado que ecoa para aqueles e aquelas que acreditam e lutam em defesa da vida, da vida plena.

“Eu vim para que todos tenham Vida e Vida em abundância.” (João 10:10)

Comissão Pastoral da Terra - Nordeste II