PJR: fé, luta e resistência
Julia Letícia Helmer Brum
A juventude camponesa, cansada da opressão, decide se organizar em prol do projeto popular para o Brasil, nos reunimos na Pastoral da Juventude Rural – PJR, para rezar a vida, as lutas, os sonhos em comum, desta juventude historicamente coibida, e nos constituímos em um serviço a serviço dos jovens e das jovens da roça, que pautam o campo como espaço de vida e resistência.
Essa organização surge simultaneamente, porém em movimentos independentes, em 1983, no Sul e no Nordeste brasileiro, e se unifica, como PJR nacional, no ano de 1988. Neste período era grande a emergência de movimentos sociais populares, que se articulavam em todo Brasil, movidos primeiramente pela necessidade da melhoria nas suas condições de vida, e impulsionados pela teologia da libertação, que representa a opção histórica da igreja – especialmente a igreja católica- pelos pobres. Nesse contexto a PJR se afirma como uma pastoral ecumênica, que se articula junto a Via Campesina Nacional. Uma organização de jovens militantes cristãos, que se assumem como discípulos missionários de Jesus de Nazaré, e se colocam a serviço, forjando uma sociedade justa e igualitária.
Com o decorrer do tempo, viemos reafirmando nossa identidade, como Pastoral, por sermos um serviço, com motivação no Evangelho, que nos convoca a nos colocar a serviço da vida, inspirados na fé, na esperança e na caridade, assumindo o projeto de Jesus; Da, por nos assumir como um espaço juvenil, com seu olhar, animação e protagonismo; Juventude, compreendendo-a como destinatária e ao mesmo tempo um sujeito coletivo organizado (categoria), que não vive apenas de sua religiosidade, mas faz opções; e Rural, assumido o campo como o meio específico, com sua cultura camponesa, que nos leva a uma opção pelos jovens camponeses empobrecidos e a um olhar roceiro nesta sociedade urbanizada.
Essa identidade é afirmada por elementos que se manifestam no nosso jeito de ser. Na nossa mística, camponesa, enraizada na mãe terra, cristã embasada e encarnada na vida do jovem camponês de Nazaré, e popular que emerge da memória subversiva da luta dos trabalhadores, na nossa luta, contra todas as formas de injustiça, na nossa forma de compreender o campo ou roça, como um lugar de vida digna, de convivência ou sintonia com a natureza, no estudo como necessidade de aprofundamento ou formação, a partir das demandas de teorização de nossa prática, e no companheirismo, por comermos do mesmo pão, fruto da natureza e do trabalho humano, e que exige uma relação de apoio e de cuidado com o outro, com a outra.
Estes elementos se concretizam em dois espaços, o eclesial onde, como povo de Deus, nos organizamos em comunidade, esse é nosso espaço de fé. E o social onde, como militantes-cristãos, atuamos a favor dos pobres, na luta da classe trabalhadora, este é nosso espaço de vida e atuação política. No engajamento nestes espaços, assumimos por nossa missão evangelizar e conscientizar a juventude camponesa, especialmente as jovens e os jovens empobrecidos, e formar militantes cristãos, discípulos missionários de Jesus Cristo, para contribuir na transformação da sociedade assumindo a construção do projeto popular e campo, articulado ao de sociedade, e lutar pela vida do planeta terra.
A juventude que se sente desamparada passa a cultivar o amor pela terra, e o carinho com os companheiros de caminhada, somos cativados pelo jeito simples da busca pelos sonhos, pelo jeito simples de entender nossas realidades especificas, e pelo aconchego da esperança, por acreditar que juntos podemos forjar uma nova sociedade. A partir daí, percebemos que não há o dia em que passamos a ser PJR, mas sim o dia em que nos achamos, em meio aos companheiros que conosco comungam da mesma espiritualidade encarnada e libertadora da juventude militante. (da mesma fé, dos mesmos sonhos, e da mesma luta).