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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Juventude como Construção Social

 Texto de Paulo Mansan, PJR do Espirito Santo, retirado de sua qualificação 
do mestrado sobre juventude camponesa
                Essa discussão dos Movimentos sociais juntamente com a academia vem quebrando um pouco da invisibilidade da juventude. Apesar disso, o tema da juventude sempre esteve presente nas ciências sociais. Algumas vezes se trabalhou com uma idéia genérica de juventude, em outros momentos se enfatizou as especificidades no interior desta. Os jovens foram vistos de diferentes modos e por diferentes métodos. Os estudos sobre a juventude indicam que devemos percebê-la como uma construção social, cultural e histórica dinâmica, intimamente ligada às transformações contemporâneas. É importante para este estudo, sob nosso ponto de vista, a perspectiva construída por Abramo (1997), que em sua revisão bibliográfica afirma que a categoria Juventude situa-se num contexto histórico.  (...) a noção de juventude é socialmente variável. A definição do tempo de duração, dos conteúdos e significados sociais desses processos modificam-se de sociedade para sociedade e, na mesma sociedade, ao longo do tempo e através das suas divisões internas. (ABRAMO, 1997)   Ao revisarmos a construção teórica de Abramo, entendemos que para a autora a juventude é uma categoria em movimento e em constante construção, ou seja, é uma categoria sem atributos pré-definidos, essencializados. Ela também afirma que para a academia, a juventude aparece, ou seja, sai da invisibilidade só na passagem do século XIX para o século XX. Porém, aparece como um problema.  A visibilidade da juventude e sua tematização como problema constróem-se, nesse período, através do surgimento de um comportamento ‘anormal’ por parte de grupos de delinqüentes, ou excêntricos, ou contestadores, implicando todos, embora de formas diferentes, em um contraste com os padrões vigentes (Abramo, 1997).   Logo nessa época a juventude aparece claramente em cena, quando causa problema, ou quando foge da normalidade. Seguindo esta mesma linha de compreensão, Groppo é outro autor que partilha da perspectiva da juventude como uma construção histórica, em que o jovem não pode ser definido simplesmente pela faixa etária. Segundo ele, tem que ser entendido a partir das realidades sociais e culturais, em que os sujeitos jovens estão envolvidos:  (...) ao ser definida como categoria social a juventude torna-se, ao mesmo tempo, uma representação sociocultural e uma situação social. Ou seja,a Juventude é uma concepção, uma representação social ou criação simbólica,  fabricada pelos grupos sociais ou pelos próprios indivíduos tidos como jovens. (Groppo, 2000, p.7).
 Os próprios autores clássicos da sociologia, como Mannheim, explicaram que é “preciso pensar juventude e sociedade em termos de reciprocidade total”(Mannheim, 1968), ou seja, o termo “juventude” designa um conjunto de relações sociais vividas pelos elementos considerados jovens de uma determinada sociedade, pois “(...) depende em grande parte das influências orientadoras e diretoras vindas de fora saber se essa potencialidade será suprimida ou se será mobilizada e integrada num movimento”.  Ou seja, segundo este autor, na formação da juventude, em grande parte, participam as construções sociais históricas por ela vivida (Mannheim, 1968).
Na revisão bibliográfica de Castro (2005), ela menciona Foracchi (1972), que diz que duas gerações convivem em dado contexto histórico, “juventude” caracterizada como um momento do ciclo-de-vida de todo indivíduo, em oposição à condição “adulta”. Para Foracchi (1972), esta abordagem contribui para se problematizar a definição físico/biológica na medida em que,
[...] não sendo passível de delimitação etária, a juventude representa, histórica e socialmente, uma categoria social gerada pelas tensões inerentes à crise do sistema. Sociologicamente ela representa um modo de realização da pessoa, um projeto de criação institucional, uma alternativa nova da existência social. (Foracchi (1972) in Castro, 2005:160).
Já Bourdieu argumenta que a vivência geracional é construída a partir de “aspirações sucessivas de pais e filhos, constituídas em relação a estados diferentes da estrutura da distribuição de bens” (1983:118). No mesmo sentido, estaria associada a diferenças do acesso à formação. Ou seja, as relações geracionais sofreriam influência das mudanças no sistema de ensino que ampliaram o acesso à formação, ao mesmo tempo em que desvalorizaram os títulos que representam cada ciclo de formação. Assim, a noção de geração seria construída relacionadamente, por oposição, mais que por aproximação.
Como se percebe acima, não trabalhamos simplesmente com o corte etário de 15-24 anos, definido por organismos internacionais como OMS e UNESCO, ou outro corte etário qualquer, como os governamentais, de 14-29 anos, que procuram homogeneizar o conceito de “juventude” a partir de limites mínimos de entrada no mundo do trabalho reconhecidos internacionalmente e através dos limites máximos de término da escolarização formal básica (básico e médio).  Pretendemos trabalhar com autores que abordam que a idade como categoria classificadora é transitória e só pode ser analisada em uma perspectiva histórica de longa duração. Um outro caminho seria analisar os ritos de passagem que indicam a “entrada” e a “saída” da condição “jovem” e suas construções simbólicas. Como por exemplo, Bourdieu, em “A Juventude é apenas uma palavra” (1983), em que este autor relaciona idade biológica e idade social, afirmando que são indissociáveis.
Nas palavras de Bourdiear,
(...)idade é um dado biológico socialmente manipulado e manipulável; e que o fato de falar dos jovens como se fossem uma unidade social, um grupo constituído, dotado de interesses comuns, e relacionar estes interesses a uma idade definida biologicamente já constitui uma manipulação evidente. Seria preciso analisar as diferenças entre as juventudes (...) (1980) 
Para o autor, a idade é socialmente construída e varia em cada sociedade nos diferentes momentos históricos e a partir de distinções de idade, gênero e classe. Concordamos com essa definição, e no nosso caso, estamos preocupados com a construção da juventude enquanto um ator político em construção nos movimentos sociais da Via Campesina. 

 FORACCHI, M. M. A Juventude na Sociedade Moderna. São Paulo: EDUSP, 1972.

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